Vida de Freelancer

A falsa urgência destes tempos urgentes.

Hoje fala-se de urgência, podia ser à porta de um hospital mas não é caso para tanto. Mas fala-se sim da urgência das palavras e do seu significado. Palavras que mudaram de sentido, que mudaram de orientação e que continuamos a usar. Acredito que são palavras e termos que acompanham este mundo rápido (até demais) de comunicação e de acesso à mesma.

Isto é urgente.
Tenho muita urgência.
Isto é para ontem.
ASAP (dito assim tem um peso muito maior e prioritário do que se traduzirmos – as soon as possible).

4 termos muito idênticos, com um jogo de palavras muito semelhante e todos querem dizer o mesmo. Mas a verdade é que a urgência que nós passamos é nossa sim, está na nossa cabeça, mas se calhar não é assim tão urgente. Confuso?

Para quem é freelancer, como eu, e que presta serviços, é recorrente termos pedidos urgentes, mais não seja um contacto urgente. Diz-me a experiência de quem já acudiu 1001 urgências (número irónico) que raramente estamos a falar de urgências no verdadeiro sentido da palavra.

Diz-me a experiência que quando empregamos o termo urgente, estamos a definir o nosso estado de espírito por algo que ainda não sabemos como vai ser ou como vamos fazer. Daí a urgência em passar para alguém a nossa urgência. E depois neste jogo de ping-pong, a urgência morre logo no pong, e não chegamos a receber um ping de volta. Depois, no processamento de informação a urgência deixou de existir para dar lugar ao processamento que pode ser longo, ou até sem retorno.

Estamos a correr muito depressa, a tentar acompanhar o ritmo frenético da informação que a todos os segundos muda e nos invade a mente. Mas, no meio de tanta rapidez e na tentativa de acompanharmos o passo, podemos correr o risco de chegarmos à meta estafados e sem fôlego e sermos forçados a terminar ou fazer uma pausa longa para recuperar. Não queremos fazer uma pausa, queremos sim um ritmo constante, com uma respiração profunda e um sorriso na cara. Será assim tão urgente aquilo que queríamos? Será que ao passarmos a nossa urgência a outros estamos a facilitar o trabalho? Será que a pressa de chegar à meta é maior do que a tranquilidade na execução? E se todos formos urgentes, como sabemos o que é realmente urgente?

Vamos tentar devolver um pouco o sentido nato das palavras, sim? Voltar às origens e não exacerbar o significado das coisas. Porque quando dizemos que é urgente vamos acreditar que é e tratar como tal, ou então poderá chegar o dia em que a história do Pedro e o Lobo acontecerá.

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