Voltamos atrás no calendário, 2013, mês quente de julho, um bilhete de ida e volta para Marselha, um destino preparado algures na Provença e eu sozinha!
Posso dizer sem sombra de dúvida que foi uma das minhas maiores aventuras da minha vida.
Sou aquele tipo de pessoa dependente dos outros para ir ao cinema, a um concerto, para passear, correr, ou seja, detesto socializar sozinha… até ao dia, que sem pudor comprei um bilhete do alfa para o Porto, um bilhete de avião para Marselha, um bilhete de autocarro para Lourmarin e reservei uma estadia numa guest house… sozinha!
O inicio da jornada começou em grande, sentia-me motivada, feliz comigo própria por confiar só em mim e nos meus pensamento que durante 1 semana seriam os meus melhores amigos, os únicos com quem eu podia ter uma conversação em português. Mas ao levantar voo no Porto, senti uma melancolia, um frio na barriga, fruto da própria experiência da vida que me colocou naquele desafio interno, mas no entanto, não me deixei abater, cabeça levantada, chegada a Marselha, ninguém fala inglês e o meu francês nada passa muito do Bonjour e Au Revoir. Alguma linguagem gestual depois, percebi por onde andava o meu autocarro e o gap entre o curto espaço de tempo no horário e o percurso a percorrer até chegar à paragem certa, era escasso, o coração palpitou, as pernas falharam, mas prova superada, entrada no autocarro com sucesso!
Quase 1 hora depois o autocarro parou à entrada da vila mais querida, pequena e pitoresca da zona da Provença, de nome Lourmarin. Descobri por acaso entre algumas pesquisas, a vila com que me identificava naquele momento, tirando o facto de ficar no sul de França e quase a 1 dia de viagem depois. O meu coração parou. Percorria as ruas medievais até chegar ao destino final, onde pousaria a mala demasiado grande para o efeito e tiraria as roupas suadas de um dia duro de roer, tive uma das melhores epifanias de sempre, um por de sol que me encheu a alma, aqueceu o coração e me revitalizou dos pés às cabeça, senti-me feliz em cada poro da minha pele.
A semana foi calma, o local assim exigia, as caminhadas a pé foram muitas, as esperas pelos autocarros locais também. Meti na cabeça que queria conhecer os campos de lavanda e conheci, eram alheios, não devia entrar mas entrei e fiz bolhas nos pés até lá chegar. Fuji à trovoada, bebi sozinha numa esplanada, percorri mercados, vi detalhes que me fizeram sorrir, cheiros que tentei perseguir, jantei sozinha num restaurante, onde a minha mesa era uma só, com uma única cadeira, um prato e um copo, circundada por uma multidão que inconscientemente me sorriu e acarinhou. Tive um mapa na mão para percorrer trilhos e corta-matos, mas não passou disso uma ideia fabulosa que não pus em prática, há alguns limites para fazer sozinha! 🙂 Apreciei os olhares alheios, retribui sorrisos, disse não obrigada quando simpaticamente um francês se ofereceu para fazer-me companhia num copo de vinho branco, na praça principal, ao final do dia… como disse há limites ;). Sentei-me nos muros e olhei o horizonte, subi ao castelo e li um livro entre as muralhas, mostrei-me disponível para olhar à minha volta e absorver a rotina e correria do dia a dia. Pedi a estranhos para me tirar uma fotografia, perdi horas a falar de tudo e de nada com alguém na praça. Voltei a outro mercado onde me perdi naquilo que podia caber na mala.
Se viajar sozinha é uma questão, então resolvam-na, pois a equação é simples e o resultado melhor. É uma experiência única, com um sumo que nos torna diferentes, mais abertos ao alheio, mais disponíveis para os outros e tão mais seguros de nós! Longe de um livro de auto-ajuda, uma viagem sem par é darmos mais valor às coisas mais simples da vida!
Se alguma vez decidirem conhecer Lourmarin, não deixem de ficar na Ancienne Maison des Gardes (http://anciennemaisondesgardes.com), os anfitriões são as pessoas mais doces e disponíveis que conheci além fronteiras, o pequeno-almoço não tem explicação e fica mesmo mesmo no centro da vila! 🙂 Caso a vossa jornada incluir trilhos, passeios a pé e autocarro local, então para além de Lourmarin, é obrigatório fazer um circulo com o marcador no mapa em Bonnieux, Cucuron e Lauris. Caso o carro faça parte do itinerário então aí… tem toda uma Provença para descobrir!
4 Comentários
Sandra maia
Lindo texto, lindas fotos e admiro a coragem para viajar sozinha. Parabéns!
Cristina
Também fui sozinha, em maio, para Dresden e Praga. Nunca o tinha feito antes e foi uma experiência simplesmente extraordinária. Fiquei cerca de 18 dias. Inicialmente, também senti um friozinho na barriga, mas passou logo. Fui ver tudo o que queria ver. Descobri sítios lindos e quero repetir a experiência.
Liliana
Tenho tanta vontade de ir viajar sozinha, mas parece que uma pessoa encontra sempre argumentos para não o fazer! Depois de ler este post fiquei mais convencida 😛
Glamour in a Bottle
Inês
Fantástico, as fotografias estão muito bonitas e o local deve ser maravilhoso!